Com o espaço reformado, a sede do Boi
Ceará ganhou as páginas azuis do Jornal O Povo. É uma alegria para Mestre Zé
Pio ter o reconhecimento da imprensa diante do trabalho para prosseguir com a
cultura do boi. Vejamos a reportagem veiculada em julho deste ano:
Ponto
de cultura
"Estou com 65 e ainda estou estudando o boi"
A pequena casa de Zé Pio foi reformada, ganhou um segundo andar (onde
eles moram hoje) e teve o térreo transformado em sede oficial do Boi Ceará,
assim como do Reisado Nossa Senhora de Fátima e do Cordão Guerreiros
Brincantes, depois dele ganhar um edital do Ministério da Cultura para
transformar o local, localizado nas Goiabeiras, entre a Barra do Ceará e o
Pirambu, em Ponto de Cultura. Um retângulo pintado em uma das paredes do
recinto registra os créditos governamentais.
3 anos
MENINO
Zé Pio
começou a brincar de Bumba-meu-boi menino novo ainda
2005
MESTRE
Neste ano Zé
Pio recebeu oficialmente o título de Mestre da Cultura
Perfil
José Francisco Rocha, nasceu em Fortaleza, no dia 4 de dezembro de
1946. Perdeu o pai aos 3 anos, mesma idade com que começou a brincar o
bumba-meu-boi. Seguindo os passados do padrasto, à revelia da vontade do novo
marido de sua mãe, tornou-se pescador, profissão que exerceu por quase toda a
sua vida. Os bois em que participou e os outros tantos que criou foram sempre
um lazer e uma paixão, até que veio o reconhecimento oficial da Secretaria da
Cultura do Ceará em 2005, quando recebeu o título de Mestre da Cultura. De lá
pra cá, fez da manifestação artística uma de suas principais ocupações e viu o
filho Kiliano, o caçula de 8 rebentos, tomar gosto pelo ofício. Hoje, aos 65
anos, vendendo saúde e bom humor, nem pensa em largar as festas populares
Dona Lúcia,
casada há 37 anos com Zé Pio, mãe dos 8 filhos com ele, acompanhou toda a
entrevista de perto.
Entre a
cozinha e um tamborete no pé da parede, riu de várias das histórias do marido.
Dona Lúcia
achou graça até quando este relembrou os tempos de gigolô de Janete e a briga,
segundo ele, das duas para ver quem ficava com o rapaz.
O filho
Kiliano, de 25 anos, sentado em frente a um computador ali perto, também ouviu
a conversa de banda e ajudou o pai quando a memória faltou.
Ao final da
entrevista, Zé Pio fez questão de mandar um abraço e um “cheiro no cangote” para a Mestre
Dina, vaqueira de Canindé, também contemplada com o título de Mestre da Cultura
pela Secult.
E enredou
repórter e fotógrafo em uma série de perguntas de duplo sentido: “Vamos dizer
que você é um pombo e tá lá comendo milho, aí chega uma ruma de pombas do seu
lado. Quantas pombas você come? ”,
Pergunta do
leitor
Por que o
senhor mudou o nome do seu Boi pra Boi Ceará??
Zé Pio - Depois que
eu fiz a matança do Boi Juventude, em 2005, dei o Boi pro meu irmão. Aí eu fui
na Dona Guiomar, a esposa do Mestre Assis, cheguei lá e pedi o nome do Boi pra
resgatar a cultura do Boi Ceará e ela me deu com o maior prazer. Ela me deu só
o nome, que boi, tudo, ema, burrinha, jaraguá, já tinha se acabado tudo. Hoje o
Boi Ceará é do Mestre Zé Pio, mas não só do mestre. O Bumba-meu-boi Ceará é da
comunidade, que eu não posso brincar no Boi só. Apenas o mestre Zé Pio tem uma
sede e tem boi, tem ema, burrinha, tem cadeira, tem computador, isso tudo que nós
ganhamos pra manter a cultura e isso é da comunidade.
Oswald Barroso, pesquisador da cultura popular
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